quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Vou dar Bandeira

Acordei novamente (acho que despertei às 5 h por ouvir belos cantos, depois adormeci). Os passarinhos sumiram devido ao calor. Ficou somente aquele do canto bonito - imponente - alguém da biologia saberá identificar. Os outros, mais espertos, foram embora para Pasárgada. Esse passarinho parece-me tão feliz e permanece cantando tão belo, apesar dos quase 40 graus às 11 da matina, chega a ser assustador. A felicidade pode ser tão perturbadora ao ponto de fazer cantar além da conta! É preciso ter uma felicidade muito ignorante para continuar alegre quando ultrapassam-se as boas condições. Se fosse uma cigarra com aquela musiquinha enfadonha no sol a pino eu até entenderia, mas uma singela avezinha dotada de exuberante melodia, chega a ser desperdício de delicadeza. Não tenho dúvidas da primavera ser a estação mais encantadora do ano, não à toa, substantivo feminino, se aproxima mais das mulheres por suas extravagantes tempestividades. Vai do sorriso em flores à lágrimas em temporais. A primavera não dá explicações. Sabe que não será entendida, pressupõe o indizível da linguagem e, naturalmente, a incompletude das relações. Por isso faz pouco caso dos que passam do ponto. Quem se importa com o passarinho? Ela mesma é exagerada, cada um que se vire a adaptar. Não tenho o fôlego desse guerreiro, estou mais para os outros, toque de recolher. Não vivo de alegrias gratuitas, vou-me embora também.

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